domingo, 20 de fevereiro de 2011

21: 45

Preparei tudo para recebê-la, comprei flores, velas, reservei uma garrafa de um dos meus melhores vinhos, escolhi algumas músicas boas para que pudéssemos dançar um pouco. Tudo estava pronto, seria o nosso aniversário de oito anos de namoro.

21:52

Enquanto a esperava servi-me com uma dose generosa de uísque com gelo, acendi um cigarro e fui à varanda observar o mar, foi nesse instante que me veio toda a nossa história. Nos conhecemos assim que terminei a faculdade, ela é um ano mais velha e cantava nos bares à noite e eu um médico recém formado. Éramos aparentemente opostos, tinha cabelos longos e olhos negros, sorriso polido e um ar sério; enquanto eu era meio loiro, de olhos claros e engraçado - vale lembrar que nos conhecemos em um bar que ela trabalhava - .

Nos conhecemos, saímos algumas vezes, bebemos e acordamos juntos, no meio disso tudo falamos sobre músicas, livros, lugares e no fim chegávamos ao "nós". Começamos a namorar, ela veio morar comigo logo após abrir meu próprio consultório e cá estamos nós desde então. Acendi outro cigarro e me questionei porquê ela andava meio estranha e mais próxima do que deveria de seu ex companheiro de trabalho, ainda cheguei a perguntar:
"Somos amigos, meu bem. Não há nada para se preocupar" - Garantiu-me.

22:17

Saí de meus devaneios quando a vi chegar, apaguei meu cigarro e fui esperá-la no elevador. Seu nome é Victoria, era a mulher da minha vida, acabou se tornando uma obsessão, faria o que fosse preciso para tê-la ao meu lado. Tudo mesmo. E o elevador veio subindo para o décimo quinto andar, as portas se abriram e meu mundo acabou. Ali, diante de mim eles se beijavam apaixonadamente, então ela me viu, baixei a cabeça e saí em silêncio. O caminho de volta ao apartamento parecia interminável, Vick correu atrás de mim com os olhos encharcados pedindo-me desculpas enquanto eu destruia tudo que havia feito para nós, atirei as flores vermelhas pela janela, abri o vinho, tomei alguns goles e andei em direção do escritório ainda com Victoria atrás de mim tentando me convencer que aquilo tudo era loucura. 

22:26

Abri a porta do escritório com um soco, andei em direção à escrivaninha e abri a segunda gaveta da esquerda, Vick parada à porta me observava. Tateei, peguei o revólver e coloquei-o em direção do peito, suspirei e fiz o desparo, o barulho quase ensurdecedor a assustou, caí enquanto o sangue se espalhava pelo chão. Ela correu em minha direção e eu a acompanhei com os olhos. Deixou escapar um "eu te amo" e arrematou a arma de minhas mãos, ouvi um outro disparo e logo em seguida um corpo se juntando ao meu, antes de perder completamente os sentidos ouvi um suspiro que não era meu. Apenas um.
Tudo havia acabado.

                                                                                                                    R.

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