sexta-feira, 8 de abril de 2011

É estranho a forma e ritmo que as coisas evoluem, literalmente fora de controle, sem limites. A imaginação fica solta, o coração vai a mil, os sentidos se misturam e horas passam em frações de segundo. É muita pele, muito cheiro, muito toque... É físico, mas ao mesmo tempo psicológico. É doce, é alegre, é frio e quente; é doloroso, prazeroso e saboroso. Tem gosto de fruta fresca e chocolate, de vento e de chuva.  Sabe o cheiro de um dia de sol? Então, é bem mais que isso; são sussurros, carícias. É mágico, irreal e aterrorizante; é efusivo.  São palavras soltas, muitas vezes sem significado, mas que são bem mais fortes que qualquer outra coisa. Quem já se sentiu assim sabe perfeitamente do que estou falando. 

sábado, 2 de abril de 2011

Aparentava ter seis, sete anos ou até mesmo menos. Sua aparência não importa muito, ela cresceu.  Não passava do meio-dia quando a vi saindo da escola sozinha e aos prantos. É difícil ver uma criança chorando e não poder dar-lhe colo, e como se lesse meus pensamentos ela veio em minha direção, sentou ao meu lado e ficou cabisbaixa; ela soluçava baixo, sem querer incomodar-me mas ao mesmo tempo tentando chamar minha atenção. Quase como um sussurro perguntei-lhe o motivo de tanto choro, então, com os olhos afogados em lágrimas que tranbordavam dos olhinhos claros contou-me que um garoto idiota da escola lhe disse que ela seria sozinha, que não teria ninguém só por ter os pais separados.
 Mas é incrível como as pessoas – mesmo sendo crianças – entendem certas coisas que muitos adultos não entenderiam...
Permaneci em silêncio e ela falou novamente, quase sem chorar se o que o menino havia dito era verdade, se ela ia mesmo ter que pagar por um erro dos pais.
Claro que não! Pessoas assim se fodem com suas próprias palavas  - Essa seria a minha resposta se ela não fosse tão jovem. Mas comportei-me, polidamente afaguei seus cabelos e falei com a doçura de uma mãe que ele não sabia o que estava dizendo e completei a resposta afirmando que os garotos não sabem de nada, ela riu e concordou fazendo um movimento breve com a cabeça.
Depois de um certo tempo tornei-me amiga de sua mãe, passei a visitar sua casa e praticamente a vi crescer. Ela se desenvolveu, deu seu primeiro beijo, teve seu primeiro namorado, ficou bêbada. Entre nós não havia segredos. Mesmo muitos anos depois ainda conversávamos sobre aquele garoto da escola, mas ela nunca me disse o nome dele, nem onde morava.
A última vez que tivemos noticias ele estava em uma casa de apoio para menores infratores, seu pai era alcóolatra, chegou bêbado em casa, matou a esposa e suicidou-se depois, deixando apenas o filho, que já era adolescente largado no chão, chorando sobre o cadáver da mãe.
É, realmente as pessoas se fodem com suas próprias palavras.