sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nada melhor que um choque de realidade para nos fazer perceber o quão idiotas somos quando estamos apaixonados, e depois do balde de água fria acordamos e percebemos que quase nada daquilo valeu à pena. Depois dos meus "afazeres diários" fiquei meio desorientada - mais do que de costume, -  e foi exatamente nesse instante que senti falta de uma companhia para uma boa conversa. Mesmo querendo não se importar eu me importo e esse meu altruísmo sem fundamentos me faz torçer pela felicidade alheia, mesmo que não seja a minha.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Qual é o seu número favorito?

Bem, o meu costumava ser cinco, mas com o tempo veio-me a vontade de ser apenas um, o que, de certa forma me deixa livre para adicionar, subtrair, multiplicar.
Posso me juntar a você e, seremos assim o que quisermos. 1 + 1 pode ser 2, 3, pode ser mil. Podemos ser Romeu e Julieta ou contraditoriamente Jesus e Maria Madalena. Dois, número par realmente atraente que transparece apoio, confiança, presença. Pode ser dia ou noite; céu e mar. Tecnicamente, é uma deixa para uma companhia. Dois podem ser quatro pernas, quatro mãos e um caminho. É desejo, paixão, amor, são os sete pecados ao mesmo tempo, é mistura, sorrisos, histórias; dois é união e separação.
Somos o começo e o final, e entre nós há milhões, há crianças e adultos, beijos, jazz, poesia, há todo mundo e não há ninguém.
"Um mais um é sempre, sempre o que a gente quiser"
                                                                                                           R.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Quero ser protegida, acho que mereço um pouco de luxo também. Quero que me leve sobre suas asas, cortando o vento, rompendo as barreiras de tudo e superando todos os animais que possam voar, quero ouvir as batidas graciosas de tuas asas enquanto fugimos de nós mesmos até que possamos nos perder e ter apenas um ao outro em algum lugar ou em lugar algum.
                                                                                                                  R.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

21: 45

Preparei tudo para recebê-la, comprei flores, velas, reservei uma garrafa de um dos meus melhores vinhos, escolhi algumas músicas boas para que pudéssemos dançar um pouco. Tudo estava pronto, seria o nosso aniversário de oito anos de namoro.

21:52

Enquanto a esperava servi-me com uma dose generosa de uísque com gelo, acendi um cigarro e fui à varanda observar o mar, foi nesse instante que me veio toda a nossa história. Nos conhecemos assim que terminei a faculdade, ela é um ano mais velha e cantava nos bares à noite e eu um médico recém formado. Éramos aparentemente opostos, tinha cabelos longos e olhos negros, sorriso polido e um ar sério; enquanto eu era meio loiro, de olhos claros e engraçado - vale lembrar que nos conhecemos em um bar que ela trabalhava - .

Nos conhecemos, saímos algumas vezes, bebemos e acordamos juntos, no meio disso tudo falamos sobre músicas, livros, lugares e no fim chegávamos ao "nós". Começamos a namorar, ela veio morar comigo logo após abrir meu próprio consultório e cá estamos nós desde então. Acendi outro cigarro e me questionei porquê ela andava meio estranha e mais próxima do que deveria de seu ex companheiro de trabalho, ainda cheguei a perguntar:
"Somos amigos, meu bem. Não há nada para se preocupar" - Garantiu-me.

22:17

Saí de meus devaneios quando a vi chegar, apaguei meu cigarro e fui esperá-la no elevador. Seu nome é Victoria, era a mulher da minha vida, acabou se tornando uma obsessão, faria o que fosse preciso para tê-la ao meu lado. Tudo mesmo. E o elevador veio subindo para o décimo quinto andar, as portas se abriram e meu mundo acabou. Ali, diante de mim eles se beijavam apaixonadamente, então ela me viu, baixei a cabeça e saí em silêncio. O caminho de volta ao apartamento parecia interminável, Vick correu atrás de mim com os olhos encharcados pedindo-me desculpas enquanto eu destruia tudo que havia feito para nós, atirei as flores vermelhas pela janela, abri o vinho, tomei alguns goles e andei em direção do escritório ainda com Victoria atrás de mim tentando me convencer que aquilo tudo era loucura. 

22:26

Abri a porta do escritório com um soco, andei em direção à escrivaninha e abri a segunda gaveta da esquerda, Vick parada à porta me observava. Tateei, peguei o revólver e coloquei-o em direção do peito, suspirei e fiz o desparo, o barulho quase ensurdecedor a assustou, caí enquanto o sangue se espalhava pelo chão. Ela correu em minha direção e eu a acompanhei com os olhos. Deixou escapar um "eu te amo" e arrematou a arma de minhas mãos, ouvi um outro disparo e logo em seguida um corpo se juntando ao meu, antes de perder completamente os sentidos ouvi um suspiro que não era meu. Apenas um.
Tudo havia acabado.

                                                                                                                    R.

sábado, 19 de fevereiro de 2011


Sentou-se de frente para mim há mais ou menos meia hora e durante esse tempo eu a observei.
Graciosamente abriu um livro, pousou-o sob suas pernas e começou a ler sem se preocupar com nada, esquecendo do mundo adentrou naquele universo. Olhei ao meu redor e não havia mais ninguém além de nós e algumas crianças brincando, voltei-me para ela novamente. Especulei qual seria seu nome e o título do livro que lia, pensei em perguntar, mas ela concerteza ficaria assustada se um homem de meia idade e cabelos grisalhos se aproximasse dela e fizesse tais perguntas. 

Recostei-me no banco da praça e voltei a ler o meu jornal semanal, embora olhá-la parecia bem mais interessante. Baixei um pouco o jornal para poder fazê-lo e ela me encantou ainda mais. Parecia tão encantadora quanto uma boneca de porcelana daquelas que a gente não pega com medo que ela se desfaça. Tinha cabelos castanho claro que caíam sobre os ombros, pele branca e lábios rosados, estava sentada com a perna direita levemente pousada sobre a esquerda. Embora sua beleza física tenha me chamado atenção não foi só isso que me encantou, já a vira outras vezes sentada naquele mesmo banco, sempre com um livro. 

A vontade de ter um contato mais direto fez nascer um tipo de paixão platônica, eu a queria, a desejava mesmo sem saber seu nome, ela me fez perceber que naqueles momentos a experiência não existe, as minhas defesas caíram desde que a vi, deixei que alguém aparentemente quinze anos mais nova que eu me dominasse sem que soubesse. 

Os dias foram passando e continuei indo ao parque, com o mesmo jornal e a mesma vontade de revê-la. Mas ela não apareceu mais, desde o dia que resolvi perguntar-lhe seu nome. A minha garota do parque chama-se Alice.

                                                                                                   R.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


Um rosto estranho me fitava nos olhos tentando descobrir algum segredo ou alguma maneira de me intimidar, tinha cabelos avermelhados que desciam pelos ombros, dando-lhe um contraste quase bonito, olhos castanhos, lábios finos e bochechas rosadas.

Era uma face meiga, com ar infantil, mas carregava uma expressão triste nos olhos, quase desesperada, como se pedisse socorro. O vento bagunçou-lhe os cabelos perfeitamente penteados e ela pareceu não se importar com isso, continuou petrificada diante de mim.

Pensei em sorrir, tentando fazer a pobre criança repetir o gesto, levantei a mão e ela fez o mesmo até que pudéssemos nos tocar. Recuamos ao mesmo tempo. Desviei meu olhar dela durante um segundo e quando voltei a olhar ela fazia o mesmo. De certa forma, aquilo não era eu, era como se fosse a criança do que serei tentando me proteger do que sou. Ou talvez apenas o meu reflexo no espelho.

                                                                                                                         R.
Foi naquele instante que me arrependi de tudo.
De todas as ligações, conversas, de todas as noites, de todas as vezes que chorei, do sofrimento, da saudade, dos beijos, das frases mais bonitas, das risadas, de todas as linhas que foram escritas com tanto carinho, dos abraços e afagos, dos surtos, de todas aquelas músicas, da alegria, gratidão, do amor e do ódio, das madrugadas em claro.

Arrependo-me de ter cedido tão fácil um sentimento único, de ter compactuado e cedido certas coisas, de ficar em silêncio quando quis gritar, das promessas. Me arrependi de não ter desistido antes, de ter rasgado todas aquelas folhas em vão.

De beber e de não ter bebido mais, de todas as vezes que acreditei em você, de ter sido boa demais pra todo mundo e nunca ser boa o suficiente, de ter acreditado que isso daria certo, me arrependo das fotos e dos últimos doze meses, daquela viagem e de todos os pedidos feitos para estrelas cadentes, do tempo perdido e de todas as mudanças, me arrependo de ter aberto mão da minha vida, de tentar enxergar um alguém que só eu achava que existia, das declarações e dos suspiros, da ingenuidade, perseverança e inocência, dos sonhos e esperanças, das atitudes por impulso e de sempre se importar com quem sequer lembra que eu existo.

Me arrependo do altruísmo, futilidade, luxúria, de agradecer, de não desprezar, de esperar, de me deixar transparecer, de sorrir, corresponder, lembrar e de tentar esquecer, da superação, de tentar sentir ódio e desprezo, dos desabafos, da ignorância, de viver a mercê de alguém que há muito não vive por mim.

Dos rascunhos e das falsas esperanças, do apego, desprendimento e do ciúme, da humildade, carisma, da afeição. Da trilha sonora, do caderno, da covardia e, por fim me arrependo das últimas vinte e três linhas.
                                                                                                                                                                                                                            R .